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Festa na Piscina das Pol​í​ticas do P​ó​s Modernismo

by Os Gambitos

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1.
OUTRO PATAMAR Tem alguma coisa que é diferente em quase tudo o que a gente fez 
Ela lembra dos grunges e dos clubbers, do Belle em Sebastian em 96 
Lembrei de tu e esqueci da letra 
Lembrei de tudo o que ela quer dizer 
Sentada de calcinha e camiseta na beira da lagoa, vendo o sol nascer

 Pode ser que chegue o dia em que a gente vai estar 
em outra vida, outro sonho, talvez outro patamar

 Quanto mais o tempo passa, mais distante o presente
 ali salvando almas na inundação
 Como as fofocas de corpos celestes, estrelas e planetas também se vão
 Foi nisso que deu o meteoro
 Todas as coisas que eu li
 Todas as canções que eu adoro
 Todas me trouxeram aqui 

Pode ser que chegue o dia em que a gente vai estar 
em outra vida, outro sonho, talvez outro patamar
2.
Arquivo 02:45
ARQUIVO A vida é o preço que se paga por ainda estar vivo
 Histórias repetidas, memórias erradas e imagens de arquivo
 Tudo morre, tudo passa, tudo um dia vira nada
 A gente recolhe o que vê no caminho e chama isso de jornada
 O vento e a tempestade 
Tem sempre chuva fina no ar
 Não sei se faz sentido contar os dias pro verão chegar 

Sempre assim no final
 Tudo muda, tudo igual
 Cada canção desse show a gente já dançou
 Fotos velhas desapareceram em um HD antigo
 Declarações que nunca apaguei só pra ainda ter comigo
 As horas se arrastam e os anos voam, mas nem tudo tá perdido
 Estar vivo é o preço que se paga pra nunca ter morrido 
O vento e a tempestade
 Tem sempre chuva fina no ar
 Não sei se faz sentido contar os dias pro verão chegar

 Sempre assim no final
Tudo muda, tudo igual
 Cada canção desse show a gente já dançou
3.
Ponto 02:37
PONTO Sentado no ponto, no meu bolso dois conto
 Carregando a guitarra e o cubo também
 Voltando do Zinga ainda fedendo a pinga
 A madruga gelada e o show que não deu ninguém
 Ali perto se ergue aquele groove de reggae 
O cheiro de x-galinha e não tem como pagar

 Eu bem que avisei que não ia rolar
 Na próxima vez não venho tocar

 Madrugadão foi agora, outro daqui a duas horas
 E esse banco assim, jeito de que vai ceder
 Abriu meu remendo, ventania batendo
 E ainda parece que já já vai chover

 Eu bem que avisei que não ia rolar
 Na próxima vez não venho tocar
4.
Maltesa 02:42
MALTESA O que eu vejo nos teus olhos não faz tanta diferença assim
 Não vai ser a primeira vez que eles preferem mentir pra mim
 Se nada disso é tão importante, mas mesmo assim tava lá 
Será que ainda tá na história no dia em que eu não mencionar?

 Mesmo com o milho e o piche tudo espalhado no mar,
 a gente nada até o Maltesa e acha que ainda vai navegar

 Um naufrágio assim tão triste e o céu não teve o que fazer
 Astrologia não existe
 Mesmo com as estrelas em buquê
 Olhando a tua pilha de livros, não tinha o que eu emprestei pra ti
 Tem no meio até autores vivos
 Muito mais do que a carcaça no Gi Mesmo com o milho e o piche tudo espalhado no mar, 
a gente nada até o Maltesa e acha que ainda vai navegar

about

Emergindo na Primavera
por Fernanda K. Schneider
(curadora de playlists e mestre em Letras - Inglês )

A minha história de origem de supervilã foi a vez que eu estava com a menina que eu gostava e o namorado dela no carro dele e coloquei o “Fold Your Hands” do Belle & Sebastian para tocar; eles tiraram sarro das músicas (e da minha cara) e, três meses depois, era a banda preferida dela. Já na segunda frase do novo EP d’Os Gambitos, “Festa na Piscina das Políticas do Pós-modernismo”, B&S é citado como um dos meios de identificação entre o narrador e alguém com quem ele divide memórias. Especificamente, ele fala do B&S em 1996, ano que pertence à década que permeia as quatro faixas do EP.

Lançado em 1989, “Políticas do Pós-modernismo”, de Linda Hutcheon,o livro que inspirou o título do EP, assegurava que a representação da história agora abria caminho para a história das representações – uma ânsia de entender o presente a partir de representações passadas. Não se trata se recontar os fatos, mas de “recontar que se está recontando”. O EP d’Os Gambitos poderia muito bem vir com uma nota de rodapé, não verbal, deixando claro que está citando tradições pop que foram formativas aos membros da banda. São ora apropriações irônicas, ora divagações nostálgicas, às vezes as duas coisas, indistinguíveis.

Nos primeiros segundos do EP, a seção rítmica festiva da descomplicada “Outro Patamar" imputa no ouvinte o sentimento, quase visualização, reminiscente daquelas noites em que você sai de casa e volta com uma memória do bar, dos amigos, da banda, irreversivelmente impressa em um ou outro órgão do seu corpo. A partir daí, os Gambitos fazem sentido imediatamente, pelo menos pra quem já tinha o coração partido consolado por bandas indie pop nos anos 1990s. As quatro canções vividamente evocam bandas desse período, como Teenage Fanclub (em “Arquivo”, por exemplo) e Pavement (em suas canções mais pop), e o EP é direto em suas homenagens às atmosferas que vão de aconchegantes a caóticas dessas bandas.

Se em “Outro Patamar”, a nostalgia existe, mas não é levada a sério pela própria gênese punk da música, havendo uma vontade despreocupada em seguir em frente, em “Arquivo”, a música seguinte, a guitarra melódica e fluida preenche a letra inquieta que, oscilando entre interrogações e insights, reflete sobre a transitoriedade da vida, sendo impossível não olhar para trás. A sinceridade da guitarra às vezes intensifica e às vezes compete com a vontade de se distanciar da nostalgia e caminhar para a ironia, ciente de estar falhando aqui e ali. Ao longo de sua duração,o álbum forma afinidade espiritual com gêneros do passado, desconfiados de grandes narrativas, mas não a ponto do cinismo: nessa segunda música,Fábio canta, “fotos velhas desapareceram em um HD antigo / declarações que nunca apaguei só pra ainda ter comigo / as horas se arrastam e os anos voam, mas nem tudo tá perdido / estar vivo é o preço que se paga pra nunca ter morrido”, esta última frase imbuída de humor e veemência que te trazem mais pra perto.

A seguir, “Ponto”, um contraponto, ou não tanto um ponto quanto uma pausa, se compromete com a quietude de um presente nada urgente, com seu narrador, simultaneamente espirituoso e impassível, tirando uma selfie derrotada e a colando na superfície das texturas (e pequenas surpresas, como uma escaleta), que a música tem. Qual o ponto disso tudo? De certa forma, “Ponto” é o momento em que o narrador se revela como tal; é quando a gente sabe que tem alguém se olhando e se referindo ao seu próprio repertório para oferecê-lo com senso de humor ao ouvinte.

A quarta e última música do EP, “Maltesa” recupera a preocupação de naufrágio do single lançado no primeiro semestre deste ano, “Meiembipe”;cantada sobre uma parede de som melancólica e um pianinho por vezes hesitante, a músic a parece ser um produto de passagens.

Ouvindo o EP depois de 1 ano e ½ de isolamento/distanciamento social, onde, especialmente no início, os dias corriam sem distinção, ao passo que todos encarávamos uma mortalidade aleatória e tratávamos machucados coletivos de forma solitária (ou quase), quando qualquer tipo de comunidade era negado, é inevitável lidar com nostalgias, com memórias de encontros e colisões.Mais do que nos trabalhos prévios, as letras de FPPP, ainda que especifiquem um ou outro lugar da ilha, alimentam um senso de universalidade, como se o tempo (duração relativa das coisas) e o tempo (condições meteorológicas), descolados (ou deslocados) do mapa, fossem os lugares verdadeiros – como garante Ismael, em Moby Dick, lugares de verdade nunca estão no mapa.

A banda que existe de vez em quando volta no primeiro dia de primavera como quem ficou muito tempo debaixo d`água na piscina e emerge para tomar ar, aliviado. Como a primavera, doce e cíclica, FPPP começa proclamando “quanto mais o tempo passa, mais distante o presente” e termina em “será que ainda tá na história no dia em que eu não mencionar?”, convidando, pelo caminho e à moda pós-moderna, a questionar os processos pelos quais construímos as representações de nossas experiências. Segundo Hutcheon, fatos são eventos aos quais damos significado – os Gambitos constróem os fatos bonitos e os horríveis, de longe e de perto, e convidam a explorar as pequenas estações que compõem cada música, nos puxando com familiaridade e desafetação.


Video para "Outro Patamar": youtu.be/FOam9-McT0I
versão karaokê: youtu.be/RZHvj9z_yvU

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released September 22, 2021

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