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30 em 3 midsummer madness Volume 1

[texto parte 1]
Em outros tempos, podia-se dizer que a história do midsummer madness– assim mesmo, com minúsculas - daria um filme. Um filme independente, claro, dirigido por Jim Jarmush e rodado em p&b porque, afinal, sonhos doces são feitos assim.

Mas atualizar os lugares comuns é preciso. Hoje, é mais fácil imaginar que a trajetória do selo criado por Rodrigo Lariú em 1989, inicialmente como um fanzine – celebrada agora em três partes, “30 em 3”, com o lançamento de um vinil, um CD duplo e uma fita cassete, com patrocínio de Natura Musical - daria uma bela e singela série, dessas que temos que lutar contra os algoritmos para encontrar.

Uma série sobre música, acima de tudo, mas também sobre amizades, sobre paixões, sobre desencontros, sobre autonomia, sobre negócios, sobre fazer você mesmo e sobre o doce e o amargo da passagem da adolescência para a chamada vida adulta. Quanto ao título, como Cameron Crowe, outro bom nome para a direção, já usou “Quase famosos”, teríamos que pensar em uma alternativa.

Ah, o roteiro não teria nenhum herói.

Porque mesmo os mais angustiados heróis – como, por exemplo, o existencialista Surfista Prateado – fazem feitos extraordinários e transitam em universos de superlativos. Tudo em torno deles é grandioso, é monumental. E apesar de a trajetória do midsummer madness ter lá suas pujanças – nas contas “por alto” do próprio Lariú, foram 340 “produtos” (entre álbuns, EPs, singles e coletâneas), 113 bandas e 2500 músicas lançadas -, tudo o que cerca o selo parece simples e espartano, coisa de gente despojada, que usa All-Star e tem timidez até de fazer air-guitar em frente ao espelho.

E, na real, na real mesmo, a história dessa efeméride – meio torta, mas absolutamente memorável - não tem nada a ver com personagens impávidos e infalíveis.
“Era para ter saído (tudo isso) em 2019 quando completamos 30 anos. Mas eu calculei mal o tempo para pedir autorização de todas as bandas”, admite Lariú, com cativante sinceridade, no zine de 35 páginas que acompanha o lançamento. “Quando finalmente consegui, veio a pandemia.

Mas aqui estamos, com 32 ou 33 anos de existência, atrasados apenas nas comemorações de 30 anos”. A existência do midsummer madness começa, ironicamente, num dia chuvoso de inverno, em Niterói, quando Lariú, então com 16 anos, impossibilitado de sair para jogar bola, decide criar um fanzine. Naquele momento, a década dos yuppies, dos mullets e das ombreiras começava a chegar ao fim. Madonna dominava as paradas de sucesso com “Like a prayer”, seguida de perto por Phil Collins com “Another day in paradise” e Roxette com “The look”. 1989 foi também o ano do escandaloso sucesso da dupla Milli Vanilli com “Girl you know it´s true”.

No Brasil do cruzado novo, Xuxa era a campeã de vendas. As grandes gravadoras nadavam em piscinas de dinheiro e o compact-disc era a maior aposta para manter aquele status. Tudo isso era notícia nos grandes jornais, que concentravam o fluxo da informação. E o midsummer madness começava a trilhar um caminho não indiferente, mas independente ao mundo ao seu redor.

[por Carlos Albuquerque]
[continua no Volume 2]

[ENGLISH]
[text part 1]
At other times, one could say that the story of midsummer madness -just like that, lowercase - would make a movie. An independent film, of course, directed by Jim Jarmush and shot in b&w because, after all, sweet dreams are made that way.

But updating the commonplace is necessary. Today, it is easier to imagine that the trajectory of the label created by Rodrigo Lariú in 1989, initially as a fanzine - now celebrated in three parts, "30 in 3", with the release of a vinyl, a double CD and a cassette tape, sponsored by Natura Musical - would make a beautiful and simple series, one of those that we have to fight against algorithms to find.

A series about music, above all, but also about friendships, about falling in love, about missing each other, about autonomy, about business, about doing it yourself, and about the sweet and the bitter of the passage from adolescence to the so-called adult life. As for the title, since Cameron Crowe, another good name for the direction, has already used "Almost Famous", we would have to think of an alternative.

Ah, the script wouldn't have any heroes.

Because even the most angst-ridden heroes - such as, for example, the existentialist Silver Surfer - do extraordinary feats and transit in universes of superlatives. Everything around them is grand, is monumental. And although the trajectory of midsummer madness has its strengths - according to Lariú's own "rough" accounts, there were 340 "products" (among albums, EPs, singles, and compilations), 113 bands, and 2500 songs released -, everything that surrounds the label seems simple and spartan, a thing of stripped-down people who wear All-Star and are even shy to air-guitar in front of the mirror.

And, really, really, the story of this ephemeris - a bit crooked, but absolutely memorable - has nothing to do with staunch and infallible characters.

"The compilation was supposed to come out in 2019 when we turned 30. But I miscalculated the time to ask for permission from all the bands," Lariú admits, with captivating sincerity, in the 36-page zine that accompanies the release. "When I finally got it, the pandemic came. But here we are, with 32 or 33 years of existence, just late in the 30th-anniversary celebrations."

The existence of midsummer madness begins, ironically, on a rainy winter day in Niterói (a town close to Rio de Janeiro), when Lariú, then 16 years old, unable to go out to play football, decides to create a fanzine.

At that moment, the decade of yuppies, mullets and shoulder pads was coming to an end. Madonna dominated the charts with "Like a Prayer", closely followed by Phil Collins with "Another day in paradise" and Roxette with "The look". 1989 was also the year of the scandalous success of the duo Milli Vanilli with "Girl you know it's true".

Big record companies were swimming in pools of money and the compact disc was the biggest bet to maintain that status. All this was news in the big media, which concentrated the flow of information. And midsummer madness was starting to walk a path that was not indifferent, but independent from the world around it.

[by Carlos Albuquerque]
[continues in Volume 2]